sábado, 28 de março de 2015

Além da imaginação

Por Nelson Mota (Folha de São Paulo)
Eu confesso: sou um sarney-dependente, preciso de pelo menos uma dose dele por dia para me divertir, ou me enfurecer. Virou um vício. Há 40 anos acompanho fascinado a sua história com olhos de ficcionista. Porque só numa ficção de alta qualidade poderia existir um personagem verossímil com as características e a trajetória de Sarney, um pobre poeta maranhense que construiu um império sem nunca ter exercido outra atividade que não a politica e os cargos oficiais.
A vida pública de Sarney é um livro aberto, mas os estudiosos continuam debatendo o enigma do seu sucesso.
Uma das teses mais polêmicas é que ele empregaria, com verbas publicas, uma grande rede de pais-de-santo do Maranhão para baterem seus tambores dia e noite por ele, enquanto se garante comungando na capela do Curupu. Só o sobrenatural poderia explicar alguém com tão pouco ter ido tão longe. Os mais céticos acham que ele é um homem de fé e sorte.
Dizem que Sarney, como pessoa física, é até cordial e agradável, um amigo antigo de amigos por quem tenho imenso apreço e respeito, como Ferreira Gullar e Marcos Vilaça. Claro, deve ter lá suas qualidades, mas também seus poderes mágicos, para conseguir sobreviver e crescer tendo feito tudo que fez. Com quem fez. E o que não fez. E não deixou fazer. Pelo que disse, do jeito que disse. Pelo que fala, e como escreve. Além de estilo, Sarney tem sorte. O seu Maranhão, não: há 40 anos mantém o pior IDH do Brasil.
Mas ele diz que o Senado é transparente e tem o orçamento enxuto, e que fará o sacrifício de presidi-lo mais uma vez. Todos aplaudem. Até ele acredita.
O meu Sarney é tão grande que se tornou um símbolo. Como uma síntese dos piores vícios e atrasos da política brasileira, ele se agiganta, sobranceiro (êpa ! peguei o estilo), como um grandioso personagem épico, que é como ele mesmo se vê. Mas como o seu talento ficcional é menor que o político, o personagem que ele imagina para si mesmo em seus discursos e entrevistas sempre parece tosco, inverossímil e cômico. Como o real.
Nem Jorge Amado, Dias Gomes e João Ubaldo, juntos, conseguiriam criar um Sarney.



SARNEY E O DIABO


Em uma de suas viagens no jatinho do laranja dono de uma faculdade maranhense, Sarney com aquele pijama de seda, fazia a leitura diária de seu Maquiavel em um aposento privativo do avião. No mesmo vôo, vinha sua assessoria e os puxa saco, quando em dado instante, eis quem aparece, ele mesmo, o "capiroto". Nesse instante, para não perder a viagem, "o coisa ruim" disse: "o jato vai cair e todos vão morrer" e começou a fazer o avião balançar muito.  Apavorados, os assessores foram até a cabine onde se encontrava o tranqüilo chefe e contaram o que estava acontecendo. Zangado, o Senador saiu do cômodo e foi ter uma conversa com o "capa preta" e perguntou-lhe:
 
Sarney: Você sabe quem sou eu?
 
O diabo: Sim, o Sarney.
 
Sarney: Você sabe quem mandou prender o Zé Reinaldo usando seu prestigio junto a justiça e até a PF para satisfazer os caprichos de uma  filha mimada?
 
O diabo: Com certeza, foi Vossa Excelência.


Sarney: Você sabe quem manda no Amapá e até no desafeto Capiberibe?


O diabo: É o Senhor.
 
Sarney: Você sabe quem não deixou o atual Governador do Estado do Maranhão trabalhar e irá tirá-lo do cargo no tapetão logo logo?
 
O diabo: O senhor é fogo hein???  Não há dúvida que é o senhor.
 
Sarney: Você sabe quem manda no Lula e em meia dúzia de petistas?
 
O diabo: O Senhor é claro.
 
Sarney: Você sabe quem mandou durante quarenta anos no Maranhão, transformando-o no Estado mais pobre do Brasil e com o menor IDH do País??? Você sabe quem construiu também um mausoléu num lugar que era do Estado só pra satisfazer seu ego?
 
O diabo: Essa é demais, mas devo reconhecer que foi Vossa Excelência.

Sarney: Sabe quem dá as cartas na ELETRONORTE, BNDES, Ministério das Comunicações, CORREIOS, PETROBRÁS e tem grandes influências em quase todos os Ministérios e na Câmara dos Deputados.?
 O diabo: Não tenho dúvidas que é Vossa Excelência.
 
Sarney: Você sabe quem é sócio de um Banco em Miami, foi sócio do presidiário Edmar Cid Ferreira ex-dono do falido Banco Santos, é sócio de uma Indústria de automóveis na Índia, sócio de um grande hospital, de um shoping e de dois prédios na avenida mais movimentada de São Luís, além de possuir vários quadros famosos e livros raros em uma ilha?
 
O diabo: Isso nem eu sei dizer de quem é, mas na dúvida... acho aposto que é de vossa excelência... 

Sarney: Sabe quem Ricardo Murad chama de painho e toma a benção todo dia por telefone antes de sair de casa.

O diabo: Francamente Senador... depois de tudo que ele falou de vossa excelência e da sua filhinha mimada ele faz isso???

Sarney: Você sabia que agora sou Presidente do Senado só para abafar uma  investigação da PF e tirar o Tasso Genro, tudo isso pra mostrar pro Lula quem manda?
 
O diabo: Cacete... tu és pior que eu, porra !!!
 
Sarney: Sabe quem possui o maior império de comunicação do Brasil para manipular pessoas em um Estado que tem um dos maiores índices de analfabetismo do país?
 
O diabo: Cruz credo... sei que é vossa excelência.
 
Sarney: Sabes quem é meu genro?
 
O diabo: Agora vou enfartar...

Sarney: Se liga satanás...  se eu morrer, com certeza,  vou pro inferno.
 
O diabo: Vai pra lá coisa ruim.
 
Nesse instante o
"capiroto" sumiu e o avião voltou a não mais balançar e tudo ficou como antes. Moral da história: Até o diabo tem medo do  que Sarney pode fazer no inferno. Que coisa !!!
 


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