quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Fiado resiste e atrai freguês em comércio local



Pequenos comerciantes suprem falta de crédito de bancos nas periferias
Dois cadernos grandes, de espiral, estão à mão no caixa do mercadinho de João Paulo Santos Silva numa favela brasileira. Páginas e páginas de números com um singelo nome anotado logo acima. Na maior parte das folhas, não há nenhuma menção a sobrenomes.
Assim funciona o sistema de crédito a um grupo de 50 clientes que podem comprar fiado no mercadinho de João Paulo. Juntos eles representam 30% do faturamento. Apesar de não ter um controle tão rígido dos calotes, ele sabe que alguns clientes estão pagando menos que 50% do que devem a cada mês. Não tem juro nem renegociação, apenas a esperança de que o pagamento seja feito em algum momento.
"A concorrência é muito grande", diz timidamente em meio ao entra e sai que numa quinta-feira à tarde é constante. "Mas não faço fiado para qualquer um não, tenho de conhecer o freguês". Mas João Paulo já está no seu limite de crédito a clientes e não aceita mais nenhum freguês para comprar fiado.
O mercadinho no meio da favela é só um exemplo de como o fiado ainda resiste no Brasil, apesar da proliferação do uso de cartão de crédito e das compras parceladas de grandes redes varejistas.
Entre os mais pobres, o porcentual de uso de fiado é de 16,3%, segundo a pesquisa da Fundação Bill & Melinda Gates, analisada pela FGV. Entre os mais ricos, o porcentual não chega a 8%. O fiado acaba sendo uma forma de suprir a classe mais pobre da falta de crédito em bancos.
A pesquisa também constatou que ainda é baixa a penetração do microcrédito, que atende justamente à população mais pobre. Em geral, os bancos, apesar de investirem em programas, principalmente com o uso de agentes que circulam nas periferias das grandes cidades, acabam se mantendo dentro das exigências das regras do Banco Central de que 2% dos depósitos à prazo estejam em microcrédito.
O Itaú, por exemplo, tem uma carteira menor que R$ 400 milhões e trabalha basicamente com agentes no Sul e Sudeste. O Santander acaba se destacando com uma carteira de R$ 2 bilhões e recentemente inaugurou uma agência na favela de Paraisópolis, que fica no outro extremo de onde está Heliópolis. O banco mantém uma taxa de inadimplência baixa, de 7%.


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