segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A melhor notícia das eleições é o enterro da era Sarney no Maranhão

Se há uma grande, alvissareira notícia nestas eleições é o enterro simbólico de José Sarney e sua turma no Maranhão. Flávio Dino, do PC do B, teve 63,54% dos votos, contra 33,68% do sarneyzista Lobão Filho, do PMDB.
Em 48 anos de comando do clã no MA, seu legado é uma tragédia: o menor IDH do Brasil, miséria, taxa de analfabetismo em torno de 40% e uma rebelião num complexo penitenciário que caberia num filme B de terror.
Houve um governador de oposição desde 1966. Foi Jackson Lago, eleito em 2006. Em 2009, seu mandato foi cassado pelo TSE para Roseana Sarney assumir.
Nestas cinco décadas, a família deu o próprio nome e o de aliados a tudo: municípios, escolas, pontes, rodovias, fóruns, avenidas, hospitais, viadutos. Como gafanhotos, deixaram o estado à míngua. (Recentemente, um amigo pegou um Land Rover para fazer uma viagem pelo interior do Nordeste. No Maranhão, contou que crianças levantavam um cartaz escrito “fome” na beira da estrada).
Lobão Filho chegou a deblaterar que tinha “195 prefeitos dos 217”, o dobro de tempo de televisão e que era “muito mais preparado”. Com tudo isso, foi derrotado principalmente pelos defeitos do velho padrinho.
Não houve economia de golpes baixos. Em seu jornal, José Sarney escreveu que Dino “insultava e vilipendiava” o Maranhão. “Tudo hipocrisia e desejo de que sejamos Venezuela. O Maranhão comunista é a mudança que desejam”, apelou.
Também apareceu um vídeo em que um detento do presídio de Pedrinhas acusava Dino de ser mandante de um assalto. O assaltante confirmaria, mais tarde, que recebera uma promessa de ganhar dinheiro e proteção em troca da armação.
Flávio Dino é advogado e professor e atuou no movimento estudantil. Tem 46 anos. Em 2010, havia perdido o governo para Roseana Sarney. É o primeiro governador eleito pelo PC do B. Após o resultado, declarou que sua vitória é “grandiosa pelos que aqui não estão, como quilombolas, quebradoras de coco, jovens, conselheiros tutelares, pelas pessoas que vi no Maranhão sem ter o que calçar, sem ter o que comer, em casas de taipas”.
É um eco de um discurso parecido. Em 1966, Glauber Rocha filmou o jovem José Sarney num comício. Sarney acabara de se eleger para o governo combatendo os coroneis. “O Maranhão não quer a miséria, a fome, o analfabetismo e as mais altas taxas de moralidade infantil, de tuberculose, de malária”, gritava, já com o bigodão insofismável.
De certa forma, ele foi um visionário: descreveu ali as condições de sua terra com meio século de antecipação, devastada por ele mesmo.
Flávio Dino não fará milagre, mas o fato de ter começado a enterrar um câncer que destrói o Maranhão desde os anos 60 é um bom começo.

Folha destaca campanha nacional para liberar o Maranhão da Oligarquia Sarney e do consórcio Lobão

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Do Maranhão da Gente
O jornal Folha de S. Paulo destacou nesta quarta-feira (29/jul), em sua coluna Painel, que a coligação Todos pelo Maranhão, comandada por Flávio Dino, vai lançar, nesta quarta-feira (29), a campanha “Ajude o Maranhão a derrotar o Sarney”. O lançamento ocorrerá amanhã, no Rio Poty, em São Luís, durante o encontro de movimentos sociais com Flávio para assinatura do Pacto por um IDH Justo.
A campanha ficará centrada em um site, a ser lançado amanhã, que permitirá doações de eleitores maranhenses e de outros estados para ajudar a financiar a campanha de Flávio Dino. O site também terá um cadastro para voluntários que queiram vir ao Maranhão ajudar na fiscalização das eleições.
A coligação Todos pelo Maranhão reúne todas as forças políticas do estado que lutam pela derrota do grupo Sarney, alojado há 50 anos no comando do governo estadual. Ao longo desse período, o Maranhão acumula as piores posições no ranking do IDH – índice da ONU que mede a qualidade de vida de cidadãos do munto inteiro. O Maranhão é o penúltimo estado em expectativa de vida e detém a pior marca em mortalidade infantil. Os maranhenses são atendidos pelo menor número de médicos e de policiais por habitante do país. Entre 2009 e 2013, o Maranhão seguiu o caminho inverso do Brasil no quesito Educação. O número de analfabetos cresceu no estado – passando de 19,1% dos maiores de 15 anos para 20,8% nesta faixa etária.

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