Em um modesto restaurante, perto de um lava-jato no centro de Hanói, um gato é preparado para matar a fome de clientes famintos. Os bichos são afogados, depilados e queimados para remover todo o pelo antes de serem fatiados e fritos com alho.
“Um monte de gente come carne de gato. É uma novidade e as pessoas querem experimentar”, explicou o gerente do estabelecimento, To Van Dung, de 35 anos.
O Vietnã proibiu o consumo de carne de gato em um esforço para estimular sua criação e manter a população de ratos de sua capital sob controle.
Mas ainda há dezenas de restaurantes que servem carne de gato em Hanói e é raro ver felinos caminhando pelas ruas, já que a maioria dos donos dos animais os mantêm dentro de casa ou presos por medo de que sejam levados por ladrões.
A demanda dos restaurantes é tanta que às vezes gatos são contrabandeados pela fronteira com a Tailândia e o Laos.
Dung explicou que nunca teve problemas com a lei. Ele disse comprar gatos de criadores locais e também dos chamados comerciantes de gatos, com poucas avaliações sobre sua procedência.
O “little tiger” costuma ser apreciado no início de cada mês lunar, ao contrário da carne de cachorro, que é consumida ao final.
Em um dia movimentado, o restaurante pode servir cerca de 100 clientes.
“Eu sei que nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha não se come gato. Mas aqui, nós comemos”, admitiu Nguyen Dinh Tue, de 44, enquanto mastigava um pedaço de carne de gato frita.
“Eu não mato gatos! Mas este lugar os vende e eu gosto de comê-los”, acrescentou. ‘Nós comíamos de tudo’
A predileção vietnamita por comer animais que são considerados bichos de estimação em outros outros países é considerada um resultado da circunstância, disse Hoang Ngoc Bau, um dos poucos veterinários formados de Hanói.
“O país foi muito pobre e tivemos uma guerra longa. Comíamos tudo o que podíamos para sobreviver”, contou à AFP. “Insetos, cães e até mesmo ratos. Tornou-se um hábito”, acrescentou.
Bau contou ter decidido se tornar veterinário depois que seu cão o salvou de uma cobra venenosa quando era criança. “A partir de então, tenho uma dívida com os cães”, disse o senhor de 63 anos.
Nas últimas décadas, mudanças dramáticas na sociedade e nos costumes do país, antes sob estrito controle comunista, fizeram cada vez mais vietnamitas desenvolverem estima pelos animais.
Bichos de estimação em perigo – Mas hábitos antigos demoram a morrer e os donos de bichos de estimação precisam lutar para proteger seus companheiros peludos da panela. “Ninguém cria cães e gatos de corte. Então, quase todos os animais que vemos nos restaurantes são capturados e roubados”, disse Bau.
“Para mim e outros que criam animais no Vietnã, são nossos melhores amigos”, acrescentou o veterinário. No entanto, algumas pessoas conseguem reconciliar a dupla afeição por gatos no país.
Le Ngoc Thien, o chef em um dos restaurantes de Hanói que serve carne felina, tem gatos de estimação. Mas isso vai até que o animal cresça o bastante para ir para a panela, quando ele pega um filhote para criar e repete o ciclo.
“Quando meus gatos ficam velhos, nós os matamos porque, segundo nossa tradição, quando eles envelhecem, precisamos trocá-los e pegar um mais novo”, explicou.
“Quando comecei a trabalhar aqui, fiquei surpreso com a quantidade de pessoas que comiam gato. Mas agora, bem, elas gostam”, disse, acrescentando que a demanda parece ter aumentado com o passar dos anos. “Comer carne de gato é melhor do que comer a de cão porque a carne é mais doce, mais macia do que a do cão”, disse Thien.
Um gato sai entre 50 e 70 dólares, dependendo do tamanho e do modo de preparo. Muitos donos de gatos que arriscam deixar seus bichanos soltos estão fartos de perder seus animais.
Phuong Thanh Thuy é proprietária de um restaurante em Hanói e cria gatos para manter os ratos longe. Ela contou que precisa substituí-los com frequência.
“Minha família está triste porque gastamos muito tempo e energia criando nossos gatos. Quando perdemos um gato, nós sofremos”, disse, enquanto uma ninhada de gatinhos recém-adquirida brincava aos seus pés. (Fonte: G1)
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